segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Vivemos, morremos.

Não, a gente não precisa encontrar tudo dentro de si mesmo, sozinhos. Não, o jardim nunca estará pronto e jamais seremos autônomos, livres, independentes, fortes e completamente felizes conosco mesmos.

Sim, é nos encontros com os Outros que nos encontramos e nos recriamos. É fora, e não dentro de nós que está toda uma infinitude de novas perspectivas. Nunca estaremos prontos, plenos, cheios, inteiros e acabados, e carregaremos sempre uma carroça de carências, faltas, anseios, defeitos e desejos não saciados, quiçá saciáveis, nas costas. E é só por isso que amamos e somos verdadeiramente amados.

O amor verdadeiro é aquele que nunca é totalmente verdadeiro, porque todo amor é uma mentira que a gente inventa pra gente mesmo e acredita, e conta pro outro que também acredita, e aí vira verdade. É preciso inventar o amor, tal como a vida. Sim, só o que pode ser inventado pode ser belo. Sim, há beleza também na feiura: - Veja!. Sim, eu acredito no amor. Sim, vou me decepcionar, sofrer, chorar. Sim, um dia vai acabar e vai doer. Sim, ainda assim acredito.

Sim e não, somos seres de falta. Sim e não, somos também de abundância, mas damos tanto, apenas, pelo que em nós nos falta aos gritos. Não se trata de simples troca, pois, sim, somos verdadeiramente generosos, mas, sim, mais ainda sedentos.
Sim e não, encontros são possíveis? Sim e não, podemos realmente nos comunicarmos? Sim e não, o que pensamos compartilhar é uma ilusão de dois lados? Não, não sou nillista. Tão pouco solipsista. Humanista, também não.

Sim. Ou você faz da sua vida poesia ou ficará sozinho no palco enquanto todos deixarem a plateia aos bocejos e sem aplausos. Agradeça se não jogarem tomates; podia ser bosta!!! Sim, a vida não dá colher de chá. Sim, você só tem uma e, sim, não tem ensaio. Sim, é preciso improviso. Sim, você está vivo, então se jogue e suje suas mãos!

Sim, eu posso ter momentos felizes sozinha. Sim, sou interessante. Sim, gosto da minha própria solidão como companhia. Sim, ela é minha melhor amiga. Sim, tenho dedos, mas, sim, uma hora cansa. Sim, não sinto meu próprio cheiro. Sim, preciso de ti. Sim, podia ser outro... Sim, talvez seja só vontade de se livrar do tédio... Não!

Não quero ser grande; não, plena; não, inteira; não, extraordinária. Não, prêmio Nobel; não, ficar pra história. Sim, viver; sim, me queimar; sim, ter a vida consumida de uma só vez feito um cigarro que pode até ser o mais barato! Não, não precisa pensar tanto; não, conceito; não, teoria, metafísica; não!, não; filosofia.
Ok, apenas um pouco para dar um charme...

Sim, quero criar; sim, produzir; sim, parir; sim, me ultrapassar e não acabar em mim. Sim, deixar marcas, rastros. De unha, batom, abraço, prazer, dor, palavras, cores, filhos. Sim, mas apenas porque quero. Tão somente pelo instante presente. Sim, imediatista, hedonista.
Somos seres finitos, mas, sim, podemos não ser.


Porque tu existe, quero. Porque quero, me movo. Porque me movo, erro. Tento de novo, busco, encontro, me perco, caio, levanto. Numa dança de silêncio. Comunicamos e desentendemos. Descomunicamos, descalços, descalchutados. Desconectamos, desclassificados. Sintonizamos e depois não. E depois sim. Nos fundimos, nos emaranhamos, nos estranhamos, nos arranhamos. Brincamos, dançamos, gozamos, sofremos, comemos e comemos, erramos, bebemos, fumamos, fudemos e nos fudemos. Faltamos, abundamos, generosamente nos damos, avidamente queremos. Sim, somos. Vamos, viemos. Vivemos, morremos.

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