terça-feira, 22 de novembro de 2011

Narcisa

Um dia ela se olhou no espelho e com espanto encontrou naquele pedaço de vidro tudo aquilo que sempre buscou encontrar em alguém. Começou a perceber o que tinha de grandioso e o que tinha de besta, e a gostar de ambas as coisas indistintamente. Então, foi degustando cada parte de si: pensamentos, gestos, membros, mas principlamente o todo, como uma obra que é bonita justamente pela soma de suas partes. Foi quando ela desejou e quis sua própria pele, seu próprio gosto, suas próprias maõs e a sua saliva. E foi navegando por suas superfícies e suas profundezas, hora navio, hora submarino; hora explorador a ancorar em terras nunca habitadas, hora pirata a encontrar tesouros a muito escondidos. E nessa entrega ficou se curtindo por horas a fio num mar de descobertas e sensações até se apaixonar perdidamente por si mesma. Desde esse dia ela nunca mais se abandonou, teve momentos lindos a uma, não foi feliz para sempre, mas pelo menos nunca mais tornou a ser partida, como a banda de uma laranja.

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