segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Até a fumaça dança, rodopia e se dissipa com a música. Dançar pra ela era embriagar-se. E toda aquela gente embriagando-se com suas danças entre moscas, mosquitos, macacos, árvores e tudo o mais. Aquela era sua transformação, dançar, rodopiar e dissipar-se, pois não havia nada mais além. A mudança não foi repentina. Não foi de um dia para o outro ou de um outro para o dia, foi a mistura de ambos: se foi um dia triste e um triste outro que se foi. Ela agora só podia dançar a vida, sentir o bumbo da música entre um mamilo e outro, ou entre um outro e seus mamilos, abrindo os braços e partindo as fôrmas, sem coreografia, sem ritmo, sem melodia. Se exisia amor, e se ele não era mera forma de entretenimento entre os homens que não conseguiam viver em paz, amar era uma dança em que cuidar do outro, abraçá-lo e despí-lo de qualquer insegurança e de qualquer medo era a meta principal. Ela poderia ter pensado, caso ainda conseguisse ordenar os pensamentos que não deveria se olhar o outro enquanto este dança, mas sim dançar com ele, pois todos dançam à sua forma invejável de compartilhar, pele na pele, suor, sangue, saliva, catarro, gozo, pura embriaguez do corpo e da alma que a este acompanha. Ali, ela só queria transceder, virar mar, subir, descer, ir e voltar, num presente intransponível de luz e de saudade: fundir-se ao mar, amanhecer Iemanjá.
(Vanessa Castro)

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