quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Como se diz eu te amo

Tomou fôlego como se fosse falar algo previamente pensado, algo talvez constatado no momento antes de dormir, "direi a ela", pensou, e então estava alí, aquela era a hora;












...soltou o fôlego, faltou coragem suficiente, ou simplesmente preferiu evitar a fadiga se mantendo na zona de conforto. Ela perguntou: - o que foi? E ele: - o que foi o que? Ela: - o que tu ia dizer? Ele: - Como tu sabe que eu ia dizer alguma coisa? Ela: - Sabendo... Diz... Fazendo um afago leve de tão doce, enquanto inspirava e expirava o ar no seu cangote.

Silêncio.

Continuaram abraçados. Tinham uma facilidade fora do comum pra mergulhar nas profundezas dum oceano de sentimentos e sensações um do outro, embarcar na espaçonave transparente para um mundo paralelo, fantástico, se transformar em nuvem e flutuar a dois metros do chão; coisa de seres de água. Quando davam por si estavam na mesma frequência, uma frequência alta, pouco sintonizada por aqui... Num desses mergulhos ela se surpreendeu com um "eu te amo" na ponta da sua própria língua, emergido das suas entranhas, veio inesperado, não premeditado, como um ato reflexo, eles nunca tinham se dito aquilo, quase escapoliu, mas ela conteve a tempo. Com um susto seu coração disparou e ela soube o que ele ia dizer.

Nessas horas, só sentiam, no presente, no corpo; naquela época andavam mais duendes do que nunca... Pediu denovo: - diz...



***



Tu cogitou falar. Aí teu coração começou a bater bem forte e acelerado e eu te senti como um menino frágil nos meus braços, todo nu, quase constrangido, sem conseguir esconder tua nudez de mim que te decifrava, era inevitável, éramos água, sabíamos, sentiamos, suas fraquezas e delicadezas assim tão expostas me cativavam ainda mais... eu te abraçei, sem escolha, como se abraça um bicho indefeso, e te acolhi com tanto amor que... teu coração disparou mais e tu procurando um jeito disse, "eu acho que eu te amo", como se fosse algo assim casual

(os próximos segundo duraram minutos, como se tivessem botado câmera lenta)








meu peito soltaria fogos, se faria festa em mim. Mas a gente tinha aprendido a não agir com efusividade e sem precisar de muitos artifício, eu, procurando um jeito disse, como se fosse casual: "é, eu acho que também te amo". E a gente ficou com aquela sensação de que as palavras eram ineficazes e insuficiente pra dizer o que a gente tinha guardado no fundo do nosso peito de água, tão cheio, encharcado, transbordante

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