Onde mesmo eu estava antes de me perder nas coisas tuas? eu ia dizer que gostei do conto Além do Ponto, apesar de no final ser meio pessimista, eu já tô me acostumando com esse pessimismo todo, não só por causa do livro, mas por causa da vida e de ti também, eu gostei porque além de chover nele, lembra o começo, quando eu não queria que tu soubesse quem eu era, por tudo que tu ia pensar que eu andava; e eu andava, por todas as vezes que eu sempre ia, pela chuva, pelas ruas, tu nem sabia o percursso que eu fazia pra chegar, um pé após o outro, até o ponto em que as pernas não obedecem mais, e tinha um fio invisivel ligando minha cabeça a tua, e tu me chamava, me esperava quente e pronto e me abriria a porta e por isso eu me atrevia... e no final, diferente do conto, a porta abria, continuou abrindo, tu tava lá de verdade me esperando, as vezes bate uma angustiazinha pensar no dia em que talvez eu fique batendo batendo batendo batendo batendo e a porta não abra mais nunca, e eu ferida, suja, molhada, maltrapilha, alucinada,
Lembra naquele dia? A mesma coisa, como sempre eu fui, não tinha chuva, nem poça, nem queda, mas tinha um ônibus que não passava, e quando passava não parava, e quando passava e ia parar já era pra pegar outro, que tava lotado e quase não dava pra subir... a lua veio, o sol se foi, demorou, mas eu não desisiti, eu fui, e quando finalmente cheguei tu tava lá, me abriu as portas, então eu me senti num conto, a gente indo, tu com a tua bicicleta verde do lado, meias vermelhas, pelas tuas, tão tuas, ruas. Me mostrando tudo até chegar, e quando então, mesmo sem ti eu me senti a vontade, por que eram as tuas, em tudo, foi quando começou, ela também tava lá, ela que me conhecia de outros ares, agora eu nos ares dela, ela toda cheia de si, pavão se abrindo, peixe beta colorido, dona de tudo que também era dela, as ruas, as roupas, as músicas, as danças, a voz, que ela oferecia segura da beleza radiante que emanava, seu corpo pequeno e escuro, seus olhos profundos. Então eu me abri pra receber o que tão generosamente tudo ali me oferecia como se tivesse me abrindo pra ti outra vez. Aí as histórias, as músicas iam tocando a gente lá no fundo, mas o melhor eram os detalhes que eu nem poderia dizer, até que uma estrela cruzou o céu e caiu bem atrás de vocês, pareceu combinado, bem na hora que a cena acabou e a música ia começar, vocês nem viram, mas a estrela caiu só pra vocês...
bola no campo passarim no ninho cobra no buraco garrafão... sete pecados... só meu só meu só meu só meu só meu... quem vai jogar... jogueiros... guerreiros novos... E eu vi a cor dessa paisagem, não só a cor, os sons, os cheiros e aquela gente e todas as crianças, como num quadro vivo, sabe?! Não sabe... Depois chegada a hora da partida a gente foi como tinha que ir, no fundo querendo ficar, mas também sem querer fazer eterno aquele instante que seria infinito enquanto durasse, o infinito era tu do meu lado, rosto pintado, meias vermelhas e o silêncio de quem tem tanto pra dizer, mas que sabe não valer a pena arriscar uebrar os nossos silêncios em que diziamos tanto; até surguir no fundo da cena o ônibus que me levaria pra longe, e que me levou, fazendo-me sumir no horizonte das tuas
Há 3 anos
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