terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Amor-canibal

Da primeira vez, foi só pra me distrair. Tanta gente já tinha te comido, eu quis experimentar, alguma coisa boa você devia ter, eu pensei. E teve. Te devorei como um animal que se alimenta de outro da mesma espécie, talvez na esperança de incorporar a mim aquilo que em ti eu tanto precisava. Talvez por isso tu se tornou um vício; eu precisava de ti pra me sentir eu. Não o que eu era, mas o que eu queria ser, o que eu precisava. Eu te procurava por necessidade, houvesse ou não prazer. Tinha uma coisa dentro de mim que não me cabia, ou que me faltava, não sei ao certo. O que você não sabe, provavelmente nunca saberá - porque é somente aí que está minha possibilidade de liberdade - é que meu vício era o depois, não o durante. Hoje, não digo que estou limpa de ti. Se me faltasses a abstinência seria certa e grave, mas de alguma forma não te quero mais.

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