quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

desilusão precoce ou o cheiro da manhã

Não sei se é intuição ou neurose, mas algo me diz que tudo vai desandar a partir de agora. Que você largou o trabalho pra cherar. Que você largou o nosso amor no canto da obra. Que tudo vai voltar a ser como era antes, ou melhor, como não era antes. Você vai voltar pra aquela casa, pra aquela vida, pra aquele bar. E de novo eu vou ficar sozinha enquanto você se mata aos poucos por aí. Você vai jogar os nossos planos fora, por não saber o que fazer com eles. Eu sei que você não sabe, mas não precisava de nada disso, eu nunca te pedi nada, apartamento, abstinência, que você mudasse, nada além do que já tinha. Eu sabia que estávamos indo rápido demais. Que estava sendo bom demais. Eu devia ter aproveitado mais enquanto era tempo; melhor assim, sofro menos agora com a minha desilusão precoce. Mas se eu nunca me importei de sentir, eu nasci pra viver e sangrar, seja de dor ou prazer. Eu queria que você não fosse embora. Que ficasse um pouco mais, apenas ficasse. Não precisava me trazer maças, nem dizer coisas interessantes, não precisava ser o que não é. Eu te queria assim, perdido, fedido e bêbado. Eu te quis naquele motel barato, naquele sofá preto, naquela casa cheia de ratos, porque diabos você foi querer me dar mais do que eu pedia?! Eu gostava mesmo de quebrar a cara e a fantasia com o balde de água fria que tu me dava quando acordava mal humorado falando palavrão; e a realidade cheirando a manhã.

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